Tom Hardy é aplaudido de pé em Veneza

“Locke” é um filme sobre um homem chamado Ivan Locke, que passa o tempo inteiro da projeção dirigido seu carro. Apenas isso, basicamente, e no entanto foi bastante elogiado, aclamado até, aplaudido de pé em sua première no Festival de Veneza, onde foi exibido fora de competição.

Méritos do roteiro engenhoso de Steven Knight, que já foi indicado ao Oscar por “Coisas Belas e Sujas” (2002) e deveria ter sido por “Senhores do Crime” (2007). Em seu segundo filme como diretor, ele conta com o ator inglês Tom Hardy (“O Cavaleiro das Trevas Ressurge”) em estado de graça.

Hardy dá vida a um empresário que tem uma família perfeita, o emprego de seus sonhos e está prestes a viver o melhor dia de sua carreira. Até receber uma ligação telefônica ameaçadora que o força a tomar uma decisão que arriscará tudo que conquistou na vida.

Segundo o ator, o conflito principal de seu personagem é a paternidade. “Locke enfrenta o fantasma de seu pai, que o abandonou quando jovem. E agora se vê falhando com seu filho da mesma maneira”, ele explicou no encontro com a imprensa, em Veneza. Para não perder sua família e seu emprego, corre contra o tempo dentro de um carro.

Impressiona o fato de o ator passar o filme praticamente sozinho, relacionando-se com os outros personagens apenas através do telefone. Algo que pode ser considerado bem diferente e ousado, numa história que acontece em tempo real, durando 90 minutos.

A ideia surgiu após o diretor filmar uma cena noturna dentro de um carro em seu primeiro filme, “Redenção”, lançado direto em DVD no Brasil. “Fiquei imaginando se seria possível realizar um longa que acontecesse inteiramente dentro de um veículo, numa estrada, e resolvi por sua imaginação a funcionar”, ele contou.

A pista está no nome Locke, que sugere “trancado” (locked, em inglês), “confinado”. E o desafio de Knight foi justamente confinar toda a ação em um pequeno espaço.

Como o filme possui apenas um carro como cenário, a maneira de atuar e de dirigir foram bastante restritas, assim como o orçamento de todo o projeto. Tanto que a pré-produção não foi muito divulgada. “Nós queríamos que fosse uma grande surpresa, é um filme que deve ser descoberto pelas pessoas”, disse o produtor Paul Webster (“Anna Karenina”), tentando capitalizar com a economia.

Para completar, Hardy tinha apenas duas semanas para fazer o filme, devido a muitos compromissos em sua agenda. Assim, todo o projeto foi rodado em apenas oito dias – ou melhor, oito noites, já que a trama só é iluminada por faróis e luzes de carros. O resultado, conta o diretor, foi uma experiência quase teatral.

Como dificuldade pouca é bobagem, o roteiro só chegou completo às mãos do ator três dias antes das filmagens serem iniciadas. “Essa dificuldade de decorar 90 páginas em pouco tempo apenas me deu mais prazer em fazer o filme. Foi engraçado, pois foi a primeira vez que entrei em um set sem ter aprendido o texto e tive que ler durante as pausas”, contou Hardy.

Mas ele teve várias chances de acertar. “As filmagens foram realizadas em sequência por oito noites consecutivas, como se fosse uma peça de teatro”, explicou Knight.

“Desde o início, fizemos tudo da maneira mais simples possível, utilizando três câmeras, que foram colocadas dentro e fora do veículo. Fazíamos várias encenações completas, filmando a trama inteira uma ou duas vezes por noite, parando apenas para trocar os cartões de memória das câmeras”, disse o diretor, que aproveitou as melhores versões na montagem.

“Tom ficava dentro do carro o tempo todo, enquanto o resto do elenco permaneceu reunido em uma sala de hotel”, continuou. O filme conta com as vozes de Ruth Wilson (“Anna Karenina”), Olivia Colman (“A Dama de Ferro”), Andrew Scott (“O Resgate do Soldado Ryan”) e Tom Holland (“O Impossível”). “Os atores ligavam de verdade para Tom e atuavam através do telefone, então tudo realmente aconteceu como você vê na tela.”

Apesar de o roteiro não especificar a nacionalidade de Locke, Hardy achou melhor fazê-lo com sotaque galês. “Foi tudo ideia de Tom, ele decidiu que o personagem falaria assim, pois pensou que combinaria melhor com um homem trabalhador e pai de família”, comentou o produtor Paul Webster. “E, na minha opinião, ele conseguiu fazê-lo muito bem.”

De fato, sua atuação no geral tem sido muito elogiada, sendo considerada pela maioria dos críticos como o melhor trabalho de sua carreira. O que deixa o produtor extremamente satisfeito. “Esse foi o primeiro filme que Tom interpretou inteiramente sozinho e ele foi incrível”, elogiou Wester. “Por isso, foi nossa primeira e única escolha para o papel. Não há mais nenhum ator como ele no mercado de hoje.”

O ator realmente gostou da experiência e se disse disposto a procurar novos desafios como este. “É muito bom fazer um papel no qual a ação principal é se conter e lidar com muito drama ao mesmo tempo”, ele apontou. “Quero mais personagens como esse para mim, que não precisam bater nas pessoas o tempo todo.”

Não que ele se incomode em estrelar filmes de ação, mas gostaria que o público também apreciasse o cinema mais artístico. “Há filmes preocupados com a arte, outros em fazer dinheiro. Trabalho nos dois tipos com o mesmo prazer. Mas é uma pena que as pessoas não queiram ver mais heróis comuns, como Locke, no cinema.”

As negociações para divulgação e distribuição de “Locke” ainda não foram realizadas. Por consequência, o longa ainda não tem data de estreia.

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