Tom Hardy fala sobre seu papel em “Locke”

Durante todo o tempo de “Locke,” todos os 85 minutos do fascinante e medonho novo thriller de Steven Knight, a única imagem que o telespectador vê na sua tela é de um Tom Hardy barbudo, dirigindo e conversando por um telefone enquanto sua vida desaba.

Enquanto alguns se sentem desconfortáveis se assistindo durante todo esse tempo, sem pausas ou acompanhamentos em cena, Tom não tem nenhum problema com isso.

Eu me vejo como um pedaço de carne,” diz o ator ao The Wrap nessa semana. “E é totalmente subjetivo. Para mim, eu sei o melhor que posso fazer.

Não é que ele não seja apaixonado por seu trabalho; na verdade é o oposto. Como um artesão ou um treinador de futebol – ele comparou com um cirurgião – Tom, um cara compacto e musculoso coberto de tatuagens, disse que ele usa o replay de cenas para verificar e ajustar as suas performances infinitamente.

Sou como um microempreendedor,” ele admite. “No início, diretores e produtores ficavam nervosos sobre eu estar nas áreas de monitoramento de vídeo. Mas para mim, é realmente uma ferramenta. Eu preciso ter certeza que meu tom está funcionando, não é sobre vaidade. É sobre ter certeza que está funcionando. Não estou salvando vidas, parceiro, mas um cirurgião olharia um vídeo de outra pessoa fazendo cirurgia, ou um piloto de formula 1 assistiria um vídeo de alguém passando por uma curva, ou um lutador de boxe assistindo outro lutador em sua luta, eu assistiria o vídeo e diria, ‘OK, isso está uma merda, vamos trabalhar nisso.

Algumas pessoas tem problema em olhar isso e dizem, ‘Porra, isso muda tudo,'” ele reconhece. “Mas já fiz 45 filmes, estou velho e feio para essas coisas, eu meio que entendo, e quero saber como posso ser mais imerso nesse mundo.

Hardy foca em partes, ambas físicas e mentais; até hoje, isso pode ser exemplificado melhor no seu papel em “Bronson” de 2008, onde ele interpreta um egoísta criminoso, um papel marcado por surtos que eram tão brilhantes como assustadores. Em “Locke”, ele interpreta um criminoso que é quase o oposto: Ivan Locke é legal, reservado, um homem racional que está trabalhando, em uma corrida de 90 minutos, para salvar sua carreira e família após uma terrível decisão.

Knight, que também escreveu o roteiro, colocou Hardy em um SUV que estava sendo puxado por um caminhão, com três câmeras gravando ele em todos os momentos. O telefone toca – a esposa de Locke, colega de trabalho e ex amante – de um telefone conectado em um hotel próximo a uma avenida onde gravaram. Enquanto todos ficam mais nervosos, Locke continua focado e permanece sem ser afetado, seu sotaque estrangeiro (tentativa de Hardy reproduzir origem galesa) não expressando nenhuma emoção.

É uma mudança para mim, mas é sempre um prazer interpretar algo mais contido,” diz Hardy sobre o papel – e a significante diferença entre Bronson e Bane em “O Cavaleiro das Trevas Ressurge.” “Eu não posso descrever de outra forma, além de que há várias camadas nisso. O carro é uma contenção de alguma forma, Locke está contido em suas emoções. E cada ligação individual, há quatro paredes para cada relação, que podem cair ou não. Então é uma performance bem matemática.”

Ironicamente, nesse caso, Hardy teve que estender uma hora e meia de performance em 5 dias de gravação, então ele não teve tanto a chance de rever sua performance como normalmente faz; ele apenas olhou alguns trechos as vezes, e francamente, ficou bastante confortável com isso durante aquele tempo.

Não há nada para aperfeiçoar na performance, a noite dele está totalmente fodida.” ele diz, rindo. “A questão é, como resolver a merda, da sua melhor maneira, quando inevitavelmente não vai ser a melhor noite de todas? Então não tem nenhuma razão em tentar embelezar aquilo. É uma merda.

Locke está disposto a falar a verdade e destruir sua própria vida para ser responsabilizado por seus atos, o que é admirável. Ainda sim, sua naturalidade e estratégia cuidadosa para limpar a bagunça – e acalmar as pessoas que ele machucou – transforma ele em alguém que não merece tanta empatia. Como Hardy vê o personagem? Ele não juga ele de maneira alguma.

Responsabilidade tem um custo, e perfeição não existe,” disse o ator. “Então o argumento de Ivan ser um cara bom ou mau, da mesma maneira, ele não é perfeito, bem vindo a porra da raça humana“.